A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é uma condição crônica caracterizada pelo refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago, causando sintomas e complicações que comprometem a qualidade de vida dos pacientes.
O tratamento para DRGE pode ser clínico ou cirúrgico, e a escolha depende de vários fatores, incluindo a gravidade dos sintomas, a resposta ao tratamento clínico e a presença de complicações.
I. Tratamento Clínico
É a primeira linha de abordagem para a maioria dos pacientes com DRGE. A supressão da secreção ácida leva ao alívio dos sintomas em até 80% dos casos.
Mudanças no Estilo de Vida: Recomenda-se elevar a cabeceira da cama, evitar refeições grandes, gordurosas e condimentadas, não deitar logo após comer, e perder peso, se necessário.
• Medicações:
- Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs): Como esomeprazol, pantoprazol, dexlansoprazol, vonoprazona, que reduzem a produção de ácido gástrico.
- Antiácidos e Algina: Para alívio sintomático rápido, neutralizando o ácido gástrico presente.
II. Indicações para Cirurgia
A cirurgia para DRGE, mais comumente a fundoplicatura de Nissen, é considerada em pacientes com DRGE refratária ao tratamento clínico ou em casos específicos, conforme descrito abaixo:
• DRGE Refratária ao Tratamento Medicamentoso
Pacientes que apresentam sintomas persistentes, apesar da dose otimizada de IBPs, são candidatos à avaliação cirúrgica. Estudos mostram que cerca de 10-40% dos pacientes podem não responder adequadamente ao tratamento farmacológico, e a cirurgia pode ser uma opção eficaz (Kahrilas et al., 2021).
• Complicações da DRGE
Complicações como esofagite erosiva grave, estenose esofágica, esôfago de Barrett, ou hemorragia esofágica recorrente também podem indicar a necessidade de cirurgia. Estas complicações representam uma falha na barreira antirrefluxo e são critérios robustos para intervenção cirúrgica (Richter, 2020).
• Preferência do Paciente
Alguns pacientes, apesar de terem uma boa resposta ao tratamento medicamentoso, podem optar pela cirurgia devido ao desejo de evitar o uso prolongado de medicamentos ou por preocupações com os efeitos colaterais a longo prazo dos IBPs, como hipomagnesemia, osteoporose e risco aumentado de infecções gastrointestinais (Moayyedi et al., 2019).
• DRGE com Sintomas Extraesofágicos
Em casos de DRGE associada a sintomas extraesofágicos, como asma, laringite crônica, ou tosse crônica, que são refratários ao tratamento clínico, a cirurgia pode ser considerada. No entanto, a evidência para a eficácia cirúrgica nesses casos é mais controversa, e a seleção dos pacientes deve ser criteriosa (Patti et al., 2022).
A seleção adequada dos pacientes é crucial para o sucesso da cirurgia antirrefluxo. A avaliação pré-operatória deve incluir pHmetria esofágica de 24 horas, manometria esofágica e endoscopia digestiva alta para confirmar o diagnóstico de DRGE e excluir outras causas de sintomas.
A cirurgia antirrefluxo geralmente resulta em alto índice de satisfação e melhora significativa na qualidade de vida. No entanto, complicações como disfagia pós-operatória, síndrome de gás-bloat, e recorrência de sintomas podem ocorrer em e devem ser discutidas com os pacientes durante o processo de decisão do procedimento cirurgico (Broeders et al., 2020).
A escolha entre tratamento clínico e cirurgia deve ser individualizada, levando em conta a resposta ao tratamento clínico, a qualidade de vida do paciente e a presença de complicações. A consulta com um gastroenterologista e, quando necessário, um cirurgião do aparelho digestivo, é fundamental para a tomada de decisão.