A encefalopatia hepática (EH) é um distúrbio funcional do Sistema Nervoso Central, causado pela insuficiência hepática e/ou shunt portossistêmico (abreviado como SPS, é caracterizado por uma anormalidade na circulação da veia porta). Manifesta-se como um vasto espectro de anomalias neurológicas ou psiquiátricas, que vão desde alterações subclínicas até o estado comatoso.
A incidência e prevalência desta condição estão relacionadas com a gravidade da insuficiência hepática subjacente e SPS. Nos pacientes com cirrose hepática, a EH sintomática é um evento que define a fase já descompensada da doença, com a presença de outras complicações, como ascite (barriga d’água) ou varizes esofagogástricas. A encefalopatia hepática é também relatada em indivíduos sem cirrose com extenso SPS.
A prevalência da encefalopatia hepática sintomática no momento do diagnóstico da cirrose é de 10 a 14%, em geral, e de 16 a 21% naqueles com cirrose descompensada. A EH mínima ou subclínica irá ocorrer em 30 a 40% daqueles com cirrose em algum momento durante o seu curso clínico e ocorre em 20% a 80% dos pacientes com cirrose.
A patogênese da encefalopatia hepática é multifatorial, causada por substâncias tóxicas que não são metabolizadas pelo fígado doente, produzindo substratos insuficientes que poderiam ser essenciais para a função neurológica. Essas substâncias tóxicas alcançam a circulação sistêmica através do SPS ou devido à redução do clearence hepático, produzindo, assim, efeitos nocivos na função cerebral. A amônia é a substância neurotóxica mais importante implicada na sua patogênese.
A encefalopatia hepática é classifica de acordo com a gravidade das manifestações clínicas. Os critérios de classificação são:
Mínima: quando há alterações nos testes psicométricos ou neuropsicológicos, além de alterações neurofisiológicas sem evidência clínica de dano mental.
Grau I: há estados de euforia ou ansiedade, redução na capacidade de concentração e alterações no ritmo do sono.
Grau II: quando há letargia ou apatia, desorientação no tempo, comportamentos inadequados ou com mudança abrupta de personalidade, flapping (movimentos repetitivos e constantes) e dificuldade em controlar os movimentos corporais.
Grau III: há sonolência, confusão mental, desorientação importante e evidente e comportamentos inadequados.
Grau IV: quando ocorre o estado comatoso.
Na grande maioria dos casos, a EH é desencadeada por fatores precipitantes, como infecções, distúrbios hidroeletrolíticos, constipação e problemas gastrointestinais, sangramento digestivo, desidratação, cirurgias ou overdose de diuréticos. Em alguns pacientes a causa do fator precipitante pode não ser identificada. As alterações neurológicas são potencialmente reversíveis com a correção destes fatores.
Por isso, é fundamental que ao primeiro sinal neuropsicológico e neuromotor, o paciente busque um médico hepatologista para avaliar o caso e definir a melhor estratégia de tratamento. Com o diagnóstico precoce e adequado, é possível reconquistar a sua qualidade de vida!