O câncer primário de fígado, ou carcinoma hepatocelular (CHC,) pode ser tratado com sucesso se detectado em estágios iniciais e se o paciente for um bom candidato para as opções terapêuticas disponíveis. As abordagens de tratamento incluem transplante de fígado, ressecção cirúrgica e terapias ablativas. A escolha do tratamento depende do estágio do câncer, da função hepática e da condição geral do paciente.
Transplante de Fígado
O transplante de fígado é uma opção curativa para pacientes com cirrose hepática avançada e CHC. Para serem considerados elegíveis para transplante, os pacientes devem atender aos Critérios de Milão, que são aceitos mundialmente com altas taxas de sobrevida. Os Critérios de Milão incluem:
1. Um único tumor com até 5 cm de diâmetro;
2. Até três tumores, cada um com no máximo 3 cm de diâmetro;
3. Ausência de invasão vascular ou metástases extra-hepáticas.
Esses critérios ajudam a garantir que o transplante seja realizado em pacientes com maior probabilidade de sucesso e menor risco de recorrência do câncer.
Indicação de Ressecção Cirúrgica
A ressecção cirúrgica é outra abordagem curativa para o CHC, indicada principalmente em pacientes com boa função hepática e que não apresentam cirrose descompensada. Este procedimento envolve a remoção completa do tumor. A ressecção é indicada quando:
1. O tumor está localizado em uma área do fígado que permite uma remoção segura sem causar insuficiência hepática;
2. Há ausência de hipertensão portal significativa;
3. A função hepática do paciente é preservada - CHILD A/MELD Na 10.
Terapias Ablativas: TACE e Radiofrequência
As terapias ablativas oferecerem controle do crescimento do tumor. As principais terapias ablativas incluem:
- Quimioembolização Transarterial (TACE): Esta técnica envolve a administração de quimioterapia diretamente na artéria que irriga o tumor, seguida pela embolização da artéria para interromper o suprimento de sangue ao tumor. TACE é indicada para pacientes com tumores intermediários ou avançados que não podem ser tratados cirurgicamente e que estão em fila de transplante de fígado.
- Ablação por Radiofrequência (RFA): Esta abordagem utiliza calor gerado por ondas de radiofrequência para destruir as células cancerosas. RFA é geralmente indicada para tumores pequenos (menos de 3 cm). Pode ser curativa em tumores únicos menores que 2cm.
Terapias de Radioembolização e SBRT
Além das terapias ablativas tradicionais, outras abordagens inovadoras estão disponíveis:
- Radioembolização (Y90): Esta técnica envolve a injeção de microesferas radioativas diretamente nas artérias que alimentam o tumor. As esferas emitem radiação, que destrói as células cancerosas enquanto minimiza os danos ao tecido saudável. É um tratamento não curativo, que tem por objetivo aumentar a sobrevida do paciente, destruindo o tumor, evitando ou controlando seu crescimento.
- Radioterapia Estereotática Corporal (SBRT): SBRT é uma forma de radioterapia que entrega altas doses de radiação de forma precisa ao tumor em poucas sessões. Esta técnica é indicada para pacientes com tumores pequenos ou localizados que não podem ser tratados cirurgicamente. SBRT é eficaz em controlar o crescimento do tumor e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Imunoterapia
Em 2023 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a combinação dos imunoterápicos durvalumabe e tremelimumabe como tratamento para pacientes com carcinoma hepatocelular avançado ou irressecável, tipo mais comum e agressivo dos tumores primários do fígado, correspondendo a 80% dos casos.
Embora o câncer primário de fígado seja uma doença desafiadora, existem várias opções terapêuticas que podem levar à cura ou ao controle eficaz da doença. A escolha do tratamento adequado depende de uma avaliação cuidadosa de cada caso, levando em consideração a extensão do câncer, a função hepática e a saúde geral do paciente. É essencial que os pacientes diagnosticados com CHC consultem um médico hepatologista para discutir as melhores opções de tratamento disponíveis.