A doença celíaca é uma doença crônica autoimune que afeta o intestino delgado de indivíduos geneticamente predispostos. Essa condição ocorre em resposta à ingestão de glúten, uma proteína encontrada em cereais como trigo, cevada e centeio.
Há algumas décadas a DC ainda era incomum e o seu diagnóstico era restrito a crianças com ascendência mediterrânea. Nos últimos anos tem se observado um aumento significativo da incidência e da prevalência devido tanto ao maior reconhecimento da doença com as suas manifestações extra intestinais quanto ao desenvolvimento de exames laboratoriais mais acurados.
A sua fisiopatologia envolve interação entre fatores genéticos e influência ambiental. Ocorre aumento da permeabilidade transmembrana e ativação da cascata inflamatória desencadeada pela gliadina que é um derivado do glúten.
Embora muitos possam pensar que a doença celíaca é apenas uma intolerância ao glúten, ela vai muito além disso, apresentando uma série de complicações e doenças associadas que merecem atenção.
Sinais e Sintomas
As manifestações clínicas da DC são amplas e em apenas 40 a 50% dos casos se apresentam com a forma clássica, mais comum na infância.
As formas de apresentação podem ser assim divididas em:
- Típica: com sintomas de má absorção como diarreia aquosa volumosa, dor abdominal, distensão, flatulência e deficiências nutricionais. As crianças acometidas podem apresentar atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, déficit de crescimento e atraso puberal.
- Atípica: poucos sintomas, geralmente os pacientes apresentam fadiga ou dispepsia.
- Silenciosa: indivíduos completamente assintomáticos que apresentam sorologia e histologia compatíveis com DC.
- Potencial ou latente: é definida como positividade da sorologia, porém sem atrofia duodenal à biópsia.
- Refratária: nos casos que persistem sintomáticos após 6 meses a 1 ano de dieta isenta de glúten e com histologia alterada.
Nos adultos as principais manifestações são alteração do hábito intestinal, com diarreia ou constipação, desconforto abdominal e flatulência. Náuseas e vômitos são incomuns.
Nos pacientes em investigação de Síndrome do Intestino Irritável ou naqueles com dispepsia acima de 55 anos e refratários ao tratamento clínico convencional a DC deve ser excluída.
A DC acomete praticamente todos os órgãos e sistemas assim distribuídos:
- Neurológico: Sintomas como enxaqueca, crise convulsiva, alteração da acuidade visual, ataxia cerebelar.
- Cardiovascular: Dados recentes demonstram risco para aterosclerose.
- Tireoide: Dificuldade no ajuste hormonal por redução da absorção medicamentosa em duodeno.
- Hepático: Alteração de transaminases.
- Osteomuscular: Fadiga, astenia, indisposição, osteopenia ou osteoporose.
- Pele: Rash cutâneo, eczema, dermatite herpertiforme.
- Ginecológico: Infertilidade, aborto de repetição.
- Má absorção de nutrientes: Ferropenia (ferro baixo), absorção de vitaminas D e cálcio
Complicações da Doença Celíaca:
Se não tratada, a doença celíaca pode levar a complicações sérias e afetar diversos órgãos e sistemas do corpo. Algumas das complicações mais comuns incluem:
- Desnutrição: Devido à má absorção de nutrientes, a desnutrição é uma preocupação significativa na doença celíaca, podendo levar a problemas de crescimento em crianças e deficiências nutricionais em adultos.
- Osteoporose: A absorção inadequada de cálcio e vitamina D pode causar enfraquecimento dos ossos, aumentando o risco de fraturas.
- Problemas neurológicos: Alguns pacientes com doença celíaca apresentam sintomas neurológicos, como dor de cabeça, dificuldades de concentração e até mesmo neuropatia periférica.
- Problemas hepáticos: Danos ao fígado, como esteatose hepática não alcoólica, e hepatite autoimune podem ocorrer.
- Infertilidade e complicações obstétricas: A doença celíaca não tratada pode afetar a fertilidade em homens e mulheres, além de aumentar o risco de complicações durante a gravidez.
Doenças Associadas:
Além das complicações diretas, a doença celíaca está associada a várias outras condições médicas, como:
- Diabetes tipo 1: Indivíduos com doença celíaca têm um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 1.
- Doenças autoimunes: A doença celíaca frequentemente coexiste com outras doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto, síndrome de Sjögren, artrite reumatóide juvenil/idiopática lúpus eritematosos sistémico, psoríase, uveítes, deficiência de IgA e nefropatia por IgA.
- Linfoma do intestino delgado: Embora raro, pacientes com doença celíaca não tratada têm um risco aumentado de desenvolver linfoma do intestino delgado.
Conclusão:
A doença celíaca é uma condição séria que não deve ser subestimada. É fundamental diagnosticá-la precocemente e adotar uma dieta rigorosa sem glúten para evitar complicações graves. Além disso, é importante estar ciente das doenças associadas e realizar um acompanhamento médico regular para garantir um tratamento eficaz e uma boa qualidade de vida para aqueles que convivem com essa condição.
Não descuide de sua saúde, se tiver alguma suspeita que possa ter doença celíaca procure um médico gastroenterologista!