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  5. Doença Celíaca (DC): Compreendendo a doença, desafios e complicações
Sumário

A doença celíaca é uma doença crônica autoimune que afeta o intestino delgado de indivíduos geneticamente predispostos. Essa condição ocorre em resposta à ingestão de glúten, uma proteína encontrada em cereais como trigo, cevada e centeio. 

Há algumas décadas a DC ainda era incomum e o seu diagnóstico era restrito a crianças com ascendência mediterrânea. Nos últimos anos tem se observado um aumento significativo da incidência e da prevalência devido tanto ao maior reconhecimento da doença com as suas manifestações extra intestinais quanto ao desenvolvimento de exames laboratoriais mais acurados.

A sua fisiopatologia envolve interação entre fatores genéticos e influência ambiental. Ocorre aumento da permeabilidade transmembrana e ativação da cascata inflamatória desencadeada pela gliadina que é um derivado do glúten.

Embora muitos possam pensar que a doença celíaca é apenas uma intolerância ao glúten, ela vai muito além disso, apresentando uma série de complicações e doenças associadas que merecem atenção.

Sinais e Sintomas

As manifestações clínicas da DC são amplas e em apenas 40 a 50% dos casos se apresentam com a forma clássica, mais comum na infância.

As formas de apresentação podem ser assim divididas em: 

  1. Típica: com sintomas de má absorção como diarreia aquosa volumosa, dor abdominal, distensão, flatulência e deficiências nutricionais. As crianças acometidas podem apresentar atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, déficit de crescimento e atraso puberal.
  2. Atípica: poucos sintomas, geralmente os pacientes apresentam fadiga ou dispepsia.
  3. Silenciosa: indivíduos completamente assintomáticos que apresentam sorologia e histologia compatíveis com DC.
  4. Potencial ou latente: é definida como positividade da sorologia, porém sem atrofia duodenal à biópsia.
  5. Refratária: nos casos que persistem sintomáticos após 6 meses a 1 ano de dieta isenta de glúten e com histologia alterada.

Nos adultos as principais manifestações são alteração do hábito intestinal, com diarreia ou constipação, desconforto abdominal e flatulência. Náuseas e vômitos são incomuns.  

Nos pacientes em investigação de Síndrome do Intestino Irritável ou naqueles com dispepsia acima de 55 anos e refratários ao tratamento clínico convencional a DC deve ser excluída.

A DC acomete praticamente todos os órgãos e sistemas assim distribuídos:

  • Neurológico: Sintomas como enxaqueca, crise convulsiva, alteração da acuidade visual, ataxia cerebelar.
  • Cardiovascular: Dados recentes demonstram risco para aterosclerose.
  • Tireoide: Dificuldade no ajuste hormonal por redução da absorção medicamentosa em duodeno.
  • Hepático: Alteração de transaminases.
  • Osteomuscular: Fadiga, astenia, indisposição, osteopenia ou osteoporose.
  • Pele: Rash cutâneo, eczema, dermatite herpertiforme.
  • Ginecológico: Infertilidade, aborto de repetição.
  • Má absorção de nutrientes: Ferropenia (ferro baixo), absorção de vitaminas D e cálcio

Complicações da Doença Celíaca:

Se não tratada, a doença celíaca pode levar a complicações sérias e afetar diversos órgãos e sistemas do corpo. Algumas das complicações mais comuns incluem:

  1. Desnutrição: Devido à má absorção de nutrientes, a desnutrição é uma preocupação significativa na doença celíaca, podendo levar a problemas de crescimento em crianças e deficiências nutricionais em adultos.
  2. Osteoporose: A absorção inadequada de cálcio e vitamina D pode causar enfraquecimento dos ossos, aumentando o risco de fraturas.
  3. Problemas neurológicos: Alguns pacientes com doença celíaca apresentam sintomas neurológicos, como dor de cabeça, dificuldades de concentração e até mesmo neuropatia periférica.
  4. Problemas hepáticos: Danos ao fígado, como esteatose hepática não alcoólica, e hepatite autoimune podem ocorrer.
  5. Infertilidade e complicações obstétricas: A doença celíaca não tratada pode afetar a fertilidade em homens e mulheres, além de aumentar o risco de complicações durante a gravidez.

Doenças Associadas:

Além das complicações diretas, a doença celíaca está associada a várias outras condições médicas, como:

  1. Diabetes tipo 1: Indivíduos com doença celíaca têm um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 1.
  2. Doenças autoimunes: A doença celíaca frequentemente coexiste com outras doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto, síndrome de Sjögren, artrite reumatóide juvenil/idiopática lúpus eritematosos sistémico, psoríase, uveítes, deficiência de IgA e nefropatia por IgA.
  3. Linfoma do intestino delgado: Embora raro, pacientes com doença celíaca não tratada têm um risco aumentado de desenvolver linfoma do intestino delgado.

Conclusão:

A doença celíaca é uma condição séria que não deve ser subestimada. É fundamental diagnosticá-la precocemente e adotar uma dieta rigorosa sem glúten para evitar complicações graves. Além disso, é importante estar ciente das doenças associadas e realizar um acompanhamento médico regular para garantir um tratamento eficaz e uma boa qualidade de vida para aqueles que convivem com essa condição.

Não descuide de sua saúde, se tiver alguma suspeita que possa ter doença celíaca procure um médico gastroenterologista!

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a imagem mostra a Dra Lilian Curvelo de frente para a câmera, sorrindo e com a mão apoiada no queixo
Dra Lilian Curvelo
CRM 78.526/SP
RQE 84418 - Gastroenterologia

Sou médica formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com especialização e doutorado em Gastroenterologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pós-doutorado em transplante de fígado pela Universidade Erasmus-MC na Holanda.

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