Há um senso comum de que apenas pessoas acima do peso correm o risco de desenvolver gordura no fígado - o que não poderia ser mais enganoso! Apesar de a obesidade ser uma condição considerada fator de risco para o desenvolvimento de doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA), pessoas magras também podem desenvolvê-la!
A DHGNA é uma doença caracterizada pelo acúmulo de triglicerídeos no fígado. Por isso, todos os pacientes que apresentam alterações no perfil lipídico, independentemente do peso, devem fazer o acompanhamento hepatológico para prevenir essa condição. Diabetes e hipertensão também são considerados fatores de risco para o desenvolvimento de DHGNA. Estudos recentes realizados nos Estados Unidos demonstraram que, dos 328 pacientes acometidos pela doença, 26% eram diabéticos, 68% hipertensos e 70% obesos.
E o principal: todos eles eram assintomáticos, ou seja, esta é uma doença de evolução silenciosa.
Outros fatores também são importantes para definir um possível risco, como composição corporal alterada (massa muscular deficiente), fundo genético que predispõe a condição (polimorfismos do gene PNPLA3, por exemplo), alterações epigenéticas (muito relacionadas ao estilo de vida) e desequilíbrio da microbiota intestinal.
Apesar da evolução sem sintomas, suas consequências são preocupantes: ela é uma das principais causas do desenvolvimento de fibroses inflamatórias e de carcinoma hepatocelular (câncer de fígado), que podem levar à necessidade de transplante do órgão. Por isso, rever os hábitos de maneira preventiva se faz mais que necessário!
O primeiro pilar de um estilo de vida mais saudável é a alimentação. Com um mundo globalizado, nossa alimentação se transformou - e, de certa forma, piorou. Alimentos altamente calóricos e gordurosos, industrializados e ultraprocessados se tornaram parte da rotina alimentar de diversas pessoas, o que impactou não somente a estética do corpo, mas a saúde como um todo. É preciso recuperar uma boa relação com os alimentos naturais, saudáveis, que contribuem para o pleno funcionamento do nosso organismo. Cozinhar em casa, por exemplo, e fazer compras na feira são hábitos simples que, quando recuperados, podem ser de grande ajuda na busca por uma vida mais saudável.
Outro pilar são os exercícios físicos. A necessidade de isolamento entre 2020 e este ano impactou direta e enormemente a nossa atividade física. O sedentarismo é perigoso não apenas pelo excesso de peso advindo, mas pela indisposição que pode causar e até mesmo dificuldades para recuperação da saúde psicológica. Praticar pelo menos 1 hora de atividades físicas todos os dias é fundamental para o bem-estar do nosso corpo e mente. E nem precisa pagar uma academia cara para isso: uma faxina em casa e até mesmo uma aula do seu ritmo musical favorito ajuda a queimar calorias e liberar endorfina da mesma maneira!
Realizar o acompanhamento médico também é primordial. Uma consulta preventiva pode salvar vidas! Testes de sangue, por exemplo, comuns em acompanhamentos de rotina, podem detectar o excesso de gordura no fígado. Além disso, quando há suspeita da doença mediante análise clínica, o médico também pode solicitar uma ultrassonografia para diagnosticar e iniciar o tratamento de forma precoce.
É importante que nós, enquanto médicos, lembremos nossos pacientes que saúde e qualidade de vida não dependem de coisas mirabolantes: elas podem ser conquistadas com atitudes simples, diárias, que farão uma grande diferença no futuro - seja a curto ou a longo prazo!