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  5. Ascite e hidrotórax: conheça a complicação mais comum da cirrose
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Você sabia que, das três principais complicações provenientes da cirrose, a ascite é a mais comum? Ela é mais recorrente que Hemorragia Digestiva Alta (HDA), sobre a qual falamos no último post aqui do blog, e que a encefalopatia hepática, sobre a qual falaremos em breve! Cerca de 85% dos pacientes com ascite, popularmente conhecida como barriga d’água, possuem cirrose hepática.

A principal característica da cirrose é a formação de fibroses (cicatrizes) no fígado. Esse processo de lesão dificulta a circulação sanguínea e provoca um aumento de pressão no interior dos vasos sanguíneos, além da retenção de sódio e água, que se acumulam na cavidade abdominal. Esse acúmulo anormal de líquido, particularmente entre os órgãos do abdômen e uma membrana chamada peritônio, causam o característico inchaço da ascite.

O desenvolvimento de ascite em pacientes cirróticos indica pior prognóstico. A mortalidade é de, aproximadamente, 40% em 1 ano; e 50% em 2 anos. Os fatores envolvidos no mau prognóstico incluem: hiponatremia, baixa pressão arterial, aumento de creatinina e baixo sódio na urina. Esses parâmetros não estão incluídos na pontuação de Child-Turcotte-Pugh, apenas a creatinina sérica é incluída no MELD score, demonstrando desta forma que, mesmo com pontuação baixa avaliada por estes scores, os pacientes são considerados em estado grave e devem ser encaminhados para o serviço de transplante hepático. Pacientes com ascite podem desenvolver ascite refratária, que de acordo com o clube Internacional de ascite, não responde ao tratamento clínico e tem recorrência precoce.

Já o hidrotórax hepático é o acúmulo de transudado no espaço pleural de pacientes com cirrose descompensada, na ausência de doença cardíaca, pulmonar ou pleural. Sua formação é secundária a pequenos defeitos do diafragma, mais frequentemente localizados no lado direito, através do qual a ascite se move para o espaço pleural por causa da pressão intratorácica negativa induzida pela inspiração.

O hidrotórax pode levar à insuficiência respiratória e pode ser complicado por infecções bacterianas espontâneas (empiema). A sua presença também está associada com um pior prognóstico, com sobrevida média de 8 a 12 meses. Isso também incorre na necessidade de transplante hepático.

Dentre os sintomas que ajudam a identificar a ascite, além do aumento progressivo da cavidade abdominal (que se torna aparente após o acúmulo de 1,5 L de líquido), pode haver inchaço nos pés, dores abdominais e dificuldade para respirar. Outros sintomas característicos da cirrose também podem estar presentes, como icterícia (olhos e pele amarelados), colúria (urina escura) e perda de massa muscular.

Exames de imagem, principalmente a ultrassonografia, ajudam a diagnosticar essas condições. Após a avaliação inicial, pode ser solicitada a coleta e análise do líquido ascítico. A coleta é realizada pelo método de paracentese (punção por agulha do abdômen) e a análise permite diagnosticar a presença de complicações infecciosas da cirrose, como a peritonite bacteriana espontânea.

O tratamento deve ser realizado com dieta hipossódica e medicamentos diuréticos. O ideal é evitar o sal nas refeições ou reduzir seu consumo para 2 g por dia. O uso de diuréticos exige a pesagem diária, que deve ser anotada pelo paciente. Qualquer sintoma como confusão mental, febre ou desorientação deve ser avisado imediatamente ao médico hepatologista.

Quando não há resposta à adoção do novo estilo de vida, principalmente em casos de ascite moderada ou acentuada, o paciente pode se beneficiar da paracentese esvaziadora com ou sem uso endovenoso de albumina ou, em casos mais raros, da colocação de uma prótese no fígado chamada shunt transjugular intra-hepático portossistêmico (TIPS).

Se você possui ascite ou cirrose, é fundamental buscar um médico hepatologista para iniciar o quanto antes o tratamento. Esse profissional também poderá avaliar a necessidade de inclusão na fila de espera para o transplante de fígado. Esse cuidado precoce pode salvar vidas!

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a imagem mostra a Dra Lilian Curvelo de frente para a câmera, sorrindo e com a mão apoiada no queixo
Dra Lilian Curvelo
CRM 78.526/SP
RQE 84418 - Gastroenterologia

Sou médica formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com especialização e doutorado em Gastroenterologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pós-doutorado em transplante de fígado pela Universidade Erasmus-MC na Holanda.

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