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  5. Nutrição na doença hepática
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Diversos fatores são fundamentais para controle da doença e qualidade de vida do paciente com doença hepática.

A cirrose hepática faz com que o paciente apresente uma condição chamada desnutrição proteico-energética (DPE). A origem da desnutrição é multifatorial, já que ocorrem diversas alterações metabólicas que prejudicam a digestão, absorção e metabolização de nutrientes. A desnutrição é um importante fator de prognóstico da doença e pode ser revertida com o suporte nutricional adequado.

Uma série de alterações metabólicas complexas ocorre na doença do fígado, e são exclusivas da cirrose, afetando o crescimento do músculo esquelético e a resposta à atrofia. Estas incluem a desregulação da oxidação de ácidos graxos e cetogênese, gliconeogênese de aminoácidos, glicogenólise e a utilização seletiva pelo fígado de aminoácidos aromáticos e de cadeia ramificada no músculo esquelético como fonte de energia. Estas alterações podem estar relacionadas a diminuição da síntese de proteínas pelo fígado. A má absorção de nutrientes em pacientes com cirrose hepática é causada por shunt portossistêmico (SPS), pancreatite crônica secundária ao abuso de álcool, deficiência de sal biliar na colestase e crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado.

Antes de realizar o manejo nutricional, é preciso ter em mente qual o objetivo a ser alcançado e, também, qual é o estado da doença. É fundamental definir se a cirrose está compensada ou descompensada e, nesse segundo caso, avaliar o tipo de descompensação e as possíveis estratégias nutricionais de tratamento.

Frente a um quadro de cirrose compensada, vale ressaltar que a prescrição de dietas extremamente restritivas para controle da doença podem produzir um efeito contrário ao desejado. Nesses pacientes, é possível manter o seu estado nutricional ou tentar reverter a perda progressiva de massa muscular.

Essa perda de massa muscular é chamada de sarcopenia, sendo esta uma síndrome muito comum entre pacientes cirróticos e associada à incapacidade física, piora da qualidade de vida e mortalidade. Ela afeta até mesmo o resultado após o transplante de fígado e resposta imunológica ao stress, o que pode incluir infecções, além de agravar as complicações da doença, como encefalopatia hepática e hipertensão portal. Os mecanismos que contribuem para o seu desenvolvimento, incluem insuficiência dietética inadequada, distúrbios metabólicos e má absorção.

O ideal, em casos compensados, é que as dietas apresentem restrições moderadas. O principal fator a ser observado e modificado é a ingestão de gorduras, já que seu consumo em excesso pode causar dificuldade para digestão, piorar a absorção de nutrientes e causar quadros de desconfortos gastrointestinais. Além disso, é aconselhável que o paciente consuma pequenas refeições ao longo do dia, já que o cirrótico possui suas reservas de glicogênio diminuídas e pouca gordura para ser utilizada como substrato energético.

Já em casos de cirrose descompensada, é fundamental avaliar as condições consequentes do quadro (entre as mais comuns estão a hipertensão portal e a ascite) para definir o manejo nutricional adequado. Vale lembrar que pacientes com cirrose possuem, em algum grau, retenção de sódio - e quanto mais avançada a doença, maior é essa retenção. Por isso, reduzir o consumo de sal é uma das principais indicações dietéticas, que pode ser substituído por outros temperos mais naturais. A restrição hipossódica é realizada apenas em casos de ascite.

Em casos de encefalopatia hepática, o controle da ingestão de algumas proteínas é fundamental. No entanto, vale ressaltar que dietas monótonas e que priorizam um tipo único de proteína não são efetivas e têm baixa adesão a longo prazo. Estudos vêm destacando que o consumo equilibrado dos diferentes tipos de proteína animal e, também, a substituição pela proteína vegetal (que é uma aliada do aparelho digestivo) podem ser boas estratégias.

Além disso, em quadros de sarcopenia que acarrete a perda muscularprogressiva e que afete a qualidade de vida e sobrevida do paciente, é fundamental aliar o manejo nutricional à reabilitação com um profissional fisioterapeuta para recuperação física.

De maneira geral, o importante é fazer com que o paciente entenda que o tratamento e controle da sua doença é multidisciplinar. O trabalho conjunto entre o médico hepatologista e o nutricionista é fundamental para recuperar e preservar a qualidade de vida do paciente. Converse com seu médico!

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a imagem mostra a Dra Lilian Curvelo de frente para a câmera, sorrindo e com a mão apoiada no queixo
Dra Lilian Curvelo
CRM 78.526/SP
RQE 84418 - Gastroenterologia

Sou médica formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com especialização e doutorado em Gastroenterologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pós-doutorado em transplante de fígado pela Universidade Erasmus-MC na Holanda.

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