O uso indiscriminado de ervas naturais e suplementos é uma prática comum, mas nem sempre segura. Muitos produtos considerados “naturais” podem causar HILI (Herb-Induced Liver Injury), ou lesão hepática induzida por ervas, uma condição que varia de elevações leves de enzimas hepáticas e até hepatite fulminante, podendo levar à necessidade de transplante de fígado.
Embora sejam amplamente divulgados como alternativas saudáveis, produtos à base de ervas podem conter compostos que geram metabólitos tóxicos, induzem reações imunológicas adversas ou afetam o fluxo biliar, resultando em hepatotoxicidade grave.
Relatos de lesão hepática induzida por ervas (HILI) e lesão hepática por suplemento alimentar e de perda de peso (DSLI) cada vez mais estão sendo publicados na literatura mundial, devido a falta de regulamentação da indústria de ervas e suplementos, principalmente nos Estados Unidos.
O que é HILI?
O termo HILI refere-se à lesão hepática causada pelo consumo de ervas ou suplementos à base de plantas. Essa condição é semelhante à lesão hepática induzida por drogas (DILI), mas é especificamente atribuída a compostos de origem natural.
- Fatores de risco: Uso prolongado, doses elevadas, predisposição genética e combinação com outros medicamentos ou ervas.
- Formas de lesão hepática: Hepatite tóxica, colestase, necrose hepatocelular e insuficiência hepática.
Ervas e suplementos associados a HILI
A seguir, uma lista de produtos que têm sido documentados como causadores de lesão hepática:
- Aloe Vera (Aloe barbadensis): Associada a hepatite tóxica por compostos derivados de antraquinonas.
- Cavalinha (Equisetum arvense): Contém alcaloides tóxicos que podem causar necrose hepática.
- Kava Kava (Piper methysticum): Relacionada a hepatite fulminante e morte.
- Chá Verde (Camellia sinensis): Catequinas em excesso podem provocar necrose hepática.
- Poejo (Mentha pulegium): Contém pulegona, altamente hepatotóxica.
- Boldo Brasileiro (Plectranthus barbatus): Associado a hepatite colestática devido aos alcaloides.
- Confrei (Symphytum officinale): Seus alcaloides pirrolizidínicos são hepatotóxicos.
- Garcinia Cambogia: Relacionada a casos de hepatite aguda.
- Sacaca (Croton cajucara): Pode elevar as enzimas hepáticas.
- Espinheira-Santa (Maytenus ilicifolia): Relatos de hepatotoxicidade em doses elevadas.
- Centella Asiática (Centella asiatica): Associada a hepatite colestática.
- Noni (Morinda citrifolia): Ligada a casos de insuficiência hepática.
- Cúrcuma (Curcuma longa): Em doses elevadas, pode causar lesão
hepática.
- Casca da laranja vermelha (Citrus aurantium): Associado à inflamaçãohepática por metabólitos tóxicos
- Espirulina: Relatada em casos de hepatite tóxica, possivelmente devido a contaminações durante a produção.
- Herbalife: Relacionado a vários casos de HILI documentados na literatura médica.
- Kombucha: Pode elevar as enzimas hepáticas em consumidores sensíveis.
Diagnóstico e avaliação de HILI
O diagnóstico de HILI envolve a exclusão de outras causas de lesão hepática, como infecções virais, doenças autoimunes ou metabólicas. Os principais exames incluem:
1. Exames de sangue:
- ALT e AST: Indicadores de lesão hepatocelular.
- Fosfatase Alcalina e GGT: Elevadas em casos de colestase.
- Bilirrubina Total e Direta: Indicadoras de obstrução biliar ou insuficiência hepática.
- INR: Avalia a capacidade de coagulação do fígado; valores altos indicam falência hepática.
Exames de imagem:
- Ultrassonografia: Detecta alterações estruturais ou obstruções biliares.
- Ressonância Magnética ou Tomografia Computadorizada: Identifica lesões mais detalhadas no fígado.
- Biópsia Hepática: Pode confirmar o diagnóstico em casos de dúvida.
Formas graves e necessidade de transplante de fígado
A progressão de HILI pode levar a complicações graves, como:
- Hepatite Fulminante: Condição de rápida evolução que pode resultar em falência hepática.
- Insuficiência Hepática Crônica: Pode evoluir para cirrose e aumento do risco de câncer de fígado.
- Transplante de Fígado: Em casos de insuficiência hepática irreversível, o transplante é a única alternativa.
Alerta: o uso indevido de ervas e suplementos
- Evite automedicação: Ervas e suplementos não são isentos de risco e devem ser usados com cautela.
- Consulte um médico: Antes de consumir qualquer produto à base de ervas, busque orientação profissional.
- Fique atento aos sintomas: Náuseas, icterícia, dor abdominal e cansaço excessivo são sinais de possível lesão hepática.
O uso indiscriminado de ervas naturais e suplementos pode ter consequências graves e irreversíveis para o fígado, um órgão vital. A conscientização sobre os riscos do consumo inadequado de produtos aparentemente inofensivos é essencial para prevenir complicações potencialmente fatais, como hepatite fulminante e insuficiência hepática. Sua saúde depende de escolhas conscientes e informadas. Cuide do seu fígado, evite riscos desnecessários!