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  5. Doença hepática alcoólica: o impacto do álcool no nosso fígado
Sumário

A doença hepática alcoólica é uma das consequências clínicas mais graves do uso crônico do álcool.

O consumo abusivo dessa substância causa a destruição das células do fígado, o que resulta em esteatose, hepatite, fibrose, cirrose e, até mesmo, mutações que podem levar ao carcinoma hepatocelular (câncer primário do fígado).

Atualmente, considera-se que a dose de etanol necessária para causar lesão hepática depende da susceptibilidade do indivíduo. Assim, o consumo poderá variar de 20 g/dia para mulheres e 40 g/dia para homens, até 160 g/dia de etanol.

Geralmente 80% dos pacientes com Hepatite Alcoólica têm história de consumo de álcool por mais de 5 anos. A possibilidade de desenvolver a hepatite e cirrose é aumentada quanto maior for a dose e o tempo de consumo de etanol. Coinfecção com hepatites virais B ou C também aumentam a severidade da doença hepática de origem alcoólica.

Aspectos gerais

O funcionamento normal do fígado é essencial à vida e é um dos órgãos mais complexos do corpo humano, responsável por mais de 500 funções - sendo uma das principais a degradação das substâncias tóxicas absorvidas pelo intestino.

Além disto, o fígado secreta bile no intestino delgado para ajudar na digestão e absorção de gorduras, armazena vitaminas, sintetiza proteínas e colesterol, metaboliza e armazena açúcares, participando também dos mecanismos de coagulação sanguínea.

Portanto, a ingestão de alimentos que sobrecarregam e prejudicam o bom funcionamento do fígado pode acarretar em danos realmente severos ao órgão e, consequentemente, ao organismo.

Tipos de lesões hepáticas provocadas pelo álcool

1.Esteatose alcoólica: a esteatose corresponde ao primeiro estágio da doença hepática alcoólica e está relacionada à deposição de gordura nas células do fígado.

Essa complicação ocorre em quase todos os indivíduos que, frequentemente, consomem álcool em excesso, podendo ser assintomáticos na grande maioria dos casos ou desenvolverem sintomas como dor discreta no abdômen superior.

Caso o indivíduo pare de beber neste estágio, ele conseguirá recuperar sua função hepática, caso contrário, o acúmulo de gordura nos hepatócitos pode desencadear um processo inflamatório severo e evoluir para um quadro de insuficiência hepática.

2.Hepatite aguda alcoólica: É uma síndrome clínica caracterizada por icterícia (olhos amarelos), de início recente associada a elevações moderadas de aminotransferases (enzimas do fígado), em indivíduo com história de uso abusivo de bebidas alcoólicas, geralmente um consumo médio diário de mais de 80 g de etanol por mais de 5 anos, na ausência de outras causas de hepatite.

Os pacientes geralmente apresentam astenia, icterícia e hepatomegalia (fígado grade) dolorosa. Febre (com ou sem infecção ativa), perda ponderal e desnutrição são também comumente encontrados. Pacientes com quadros mais graves podem apresentar ascite (água na barriga), encefalopatia hepática (confusão mental), hemorragia varicosa e graus variados de alteração da função renal. É um quadro grave que pode evoluir para falência aguda do fígado e óbito.

3.Cirrose alcoólica: Ocorre quando um processo inflamatório persistente ao fígado secundário ao consumo abusivo do álcool, por um longo período de tempo, desencadeando progressivamente a substituição do tecido normal do fígado por fibrose (cicatrizes) que pode levar a cirrose. A cirrose é caracterizada por alteração da arquitetura normal do fígado pela presença de nódulos que envolvem as células hepáticas remanescentes.

Embora a cirrose alcoólica possa levar o indivíduo à morte em função de falência hepática , ela pode ser estabilizada pela abstinência completa do álcool.

Aqui, vale observar que estas três condições clínicas costumam estar relacionadas em sequência e de forma progressiva. Entretanto, alguns indivíduos podem desenvolver cirrose sem ter tido hepatite.

4.Carcinoma Hepatocelular: esta é uma das neoplasias mais comuns no mundo e a terceira causa mais frequente de morte por tumor maligno, sendo que, na maioria dos casos, surge como uma das complicações da cirrose - representando o estado final da doença alcoólica hepática.

Algumas considerações

O que observa-se na prática clínica é que a maior parte dos pacientes com quadro de hepatite alcoólica aguda tem entre 40 e 50 anos e são do sexo masculino, apesar das mulheres serem mais suscetíveis a lesões hepáticas.

O risco de doença hepática aumenta acentuadamente em homens que bebem > 40 g, principalmente > 80 g de álcool/dia (p. ex., cerca de 2 a 8 latas de cerveja, 3 a 6 doses de destilado ou 3 a 6 taças de vinho) durante > 5 a 10 anos.

Para o desenvolvimento de cirrose, o consumo é geralmente > 80 g/dia, por > 5 a 10 anos. Se o consumo exceder 230 g/dia durante 20 anos, o risco de cirrose é cerca de 50%. Mas apenas alguns etilistas crônicos desenvolvem doença hepática. Então, a variação no consumo de álcool não explica inteiramente a suscetibilidade a doença, indicando que existem outros fatores envolvidos.

Sobrepeso, diabetes, má nutrição, tabagismo e sedentarismo, somados ao consumo excessivo de álcool, são alguns dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças hepáticas.

Cerca de 25% das pessoas que consomem grandes quantidades de álcool também têm hepatite C, e a combinação de uma grande quantidade de bebida com a hepatite C aumenta o risco de desenvolver cirrose hepática e suas complicações.

Fatores genéticos e gênero também podem influenciar na progressão dessas doenças.

O consumo consciente, seguindo as orientações do seu médico de confiança, pode evitar esses e outros problemas graves de saúde. Portanto, cuide-se e esteja sempre em dia com seus exames clínicos.

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a imagem mostra a Dra Lilian Curvelo de frente para a câmera, sorrindo e com a mão apoiada no queixo
Dra Lilian Curvelo
CRM 78.526/SP
RQE 84418 - Gastroenterologia

Sou médica formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com especialização e doutorado em Gastroenterologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pós-doutorado em transplante de fígado pela Universidade Erasmus-MC na Holanda.

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